No último sábado (18/03), aconteceu a I edição do BEAUTY DAY, na sede da Fundação Iniciativa, um projeto desenvolvido pelo Grupo de Voluntários Elos Invisíveis.
O projeto visa a conscientização acerca da adoção e apadrinhamento afetivo e também o resgate da autoestima de meninas em situação de acolhimento institucional, levando beleza, bem-estar, criando memórias afetivas e oportunizando que voluntários possam conhecer essa realidade.
A primeira edição do projeto, escrito por Viviane Vicentin, foi realizada com o apoio e coordenação de Marina Grando, consultora de imagem e voluntária do Grupo Elos Invisíveis.
O PROJETO
De um lado, o projeto visa trazer a debate a questão das crianças em situação de acolhimento institucional, explicando sob o aspecto do Direito como se dá o estímulo às adoções tardias (de crianças com mais de três anos e adolescentes), a de grupo de irmãos, a adoção especial (de crianças e adolescentes com algum tipo de deficiência) e a inter-racial, e também como funciona o programa de apadrinhamento.
De outro lado, o projeto visa o desenvolvimento de um momento lúdico com as meninas em situação de acolhimento institucional, levando beleza, bem-estar, trabalhando no desenvolvimento da autoestima, criando memórias afetivas e oportunizando que voluntários possam conhecer a realidade de uma casa lar.
Basicamente, a ideia é promover o encontro de crianças e adolescentes não idealizados com potenciais adotantes e padrinhos/madrinhas, como forma de desmistificar o paradigma de que somente as características citadas são as ideais, criando uma visão de que a realidade pode ser diferente.
A AÇÃO
As voluntárias do Grupo Elos Invisíveis passaram uma tarde com as adolescentes acolhidas na sede da Fundação Iniciativa. Foi um dia lindo e impactante, que vai ficar guardado no coração de cada uma das voluntárias que se dedicaram para que o evento fosse um sucesso.
O evento contou com a participação de Samara Rosa, mestranda em educação na UFPR, que compartilhou uma linda história sobre empoderamento feminino, questões raciais, autoestima e beleza.
Em seguida, as adolescentes fizeram as unhas, ganharam maquiagem, penteados nos cabelos e bijuterias.
As adolescentes ainda passaram por uma consultoria com Marina Grando e ganharam lookinhos e tênis novos, doados pela Acervo Dua (de Maria Fernanda Sbrissa).
Elas também tiveram direito a taças e roupões personalizados (emprestados pela Associação Semeando Amor) e participaram de um coquetel com comidinhas e bebidinhas. Durante evento, as meninas ganharam deliciosos lanches enviados pelo Janaíno Vegan.
E, no final do dia, as meninas ganharam kits de higiene e muitos presentes enviados por nossos doadores.
Após a produção, cada uma das meninas ganhou um ensaio com o fotógrafo argentino Juan Schenone.
A cobertura do evento ficou por conta do fotojornalista Luis Pedruco.
JUSTIFICATIVA DO PROJETO
Há cerca de 30 mil crianças e adolescentes sob medida de proteção e vivendo em Serviços de Acolhimento no Brasil. A maioria está nos serviços institucionais, nos abrigos e casas lares (96%), enquanto que somente 4% estão em famílias acolhedoras.
Nem todas as crianças acolhidas, no entanto, estão disponíveis para adoção.
Segundo dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2020, no Brasil, existiam quase 34 mil crianças e adolescentes abrigadas em casas de acolhimento e instituições públicas por todo país. Destas, 5.040 estavam totalmente prontas para a adoção. Na outra ponta, 36.437 pessoas tinham interesse em adotar uma criança.
Mesmo com um número muito maior de pessoas interessadas em adotar do que crianças disponíveis para adoção, a conta não fecha porque o perfil das crianças não é o de predileção dos pretensos pais.
Segundo os dados apresentados pelo Conselho Nacional de Justiça, 83% (oitenta e três por cento) das crianças tem acima de 10 (dez) anos, mas apenas 2,7% dos pretendentes aceitam crianças dessa faixa etária.
De acordo com o Observatório do Terceiro Setor, que também fez uma pesquisa sobre os dados apresentados do Conselho Nacional de Justiça, 26,1% dos que desejam adotar preferem crianças brancas; 58% almejam crianças com até 4 anos de idade; 61% não aceitam adotar irmãos e 57,7% só querem crianças sem doenças e apenas 4,52% aceitam adotar crianças maiores de 8 anos.
Das adoções concluídas, mais da metade (51%) contemplam crianças de 0 a 3 anos, ao passo que 28% dos processos concluídos se referem a crianças de 4 a 7 anos; 15% das adoções são de crianças de 8 a 11 anos e apenas 6% se referem a processos de adoção de adolescentes (acima de 12 anos).
O cenário do Paraná não é muito diferente. Entre os anos de 2019 a 2021, o estado registrou cerca de 1.500 adoções regulamentadas de crianças e adolescentes. Entretanto, ainda são mais de 400 crianças e adolescentes esperando uma nova família, ao passo que há 2.300 pretendentes no estado.
A discrepância entre esses números acontece porque a maioria das crianças e adolescentes não se encaixa no perfil mais procurado pelos interessados em adotar. Por exemplo, no Paraná, 76% das crianças possuem mais de 6 anos, apenas 40% não têm irmãos e mais da metade não é branca, segundo dados do Sistema Nacional de adoção e acolhimento.
DEBATE NECESSÁRIO
Independente da condição jurídica da criança ou adolescente em situação de acolhimento, o fato é que elas precisam de um olhar da sociedade e também de políticas públicas e programas que deem visibilidade a sua condição e ofereçam soluções para amenizar o problema.
Há ainda muito desconhecimento acerca de quem são e quais os motivos que levam crianças e adolescentes a serem afastadas de suas famílias de origem. Muito desse desconhecimento é resultado de anos e anos de uma cultura de institucionalização que segregou as crianças e adolescentes que precisavam de proteção e culpabilizou suas famílias.
Essa herança de institucionalização da infância e juventude marca ainda hoje a maneira como olhamos e cuidamos de nossas crianças. Muitas pessoas ainda acham que existem orfanatos e que crianças e adolescentes em instituições são delinquentes, perigosos e trombadinhas.
Muito já mudou e evoluiu no que concerne às políticas públicas de apoio a crianças, adolescentes e suas famílias, mas olhar a história faz com que entendamos melhor de onde viemos e como nos moldamos.
A vivência familiar e social, os laços com a comunidade e a noção de pertencimento são de extrema importância para a construção da individualidade e identidade, e que a medida de acolhimento e o afastamento da criança e adolescente de seu núcleo original é um momento extremamente delicado e permeado de sofrimento.
Crianças e adolescentes que sofreram violações de direitos e precisam de acolhimento podem ter diferentes impactos em seu desenvolvimento, seja pelas vivências que levaram ao acolhimento, seja pelo impacto da própria medida e do afastamento familiar.
Nesse sentido, a qualidade dos cuidados que recebem no acolhimento e a possibilidade que esses lugares ofereçam um olhar individualizado para cada criança e adolescente pode diminuir ou aprofundar os impactos da violência e negligência sofrida.
APOIADORES, DOADORES E VOLUNTÁRIOS
A realização do evento contou com a colaboração de dezenas de voluntárias, patrocínio do Janaíno Vegan e Acervo Dua e contribuição de dezenas de doadores, dentre eles, destacamos as seguintes pessoas:
AUTORIA DO PROJETO E REDAÇÃO: Viviane Vicentin
COORDENAÇÃO: Marina Grando
DOADORES: Luciana Massolini; Michelle Justi; Danielle Franseschi; Ursula Cheohen; Vanessa Dobuchak; Fernanda Loper; Bianca Mota; Túlio Paim; Lorena Bezerra; Rosa Marini; Aline Pereira; Gessica Paliga Costa; Tati Prado; Estefanie Bender; Gabriela Mazur; Cristiane Sato; Chrisley Santos; Viviane Vicentin e Letícia Witzki.
VOLUNTÁRIAS: Larissa Maciel; Andressa Lima Barros; Juliana de Farias Pires Gomes; Talita Fabiele Karasinski; Cristiane Akemi Sato; Fernanda Moreira Branco; Chrisley Jociele Santos Faria; Maria Fernanda Sbrissa; Natalia Kanasiro Gonçalves; Samara Rosa; Marina Gomes Grando; Isabelli Victória Paliga; Gessica Paliga Costa e Viviane Vicentin.
PATROCINADORES: Janaino Vegan e Acervo Dua
FOTÓGRAFOS: Luis Fernando Pedruco e Juan Schenone
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